11.12.22

Matéria fundente

Desde o dia feminino

uma glicínia oferece as pétalas

perfumam a cama de folhas outonais. 

A curvatura do corpo

fermenta na rebeldia dos elementos

como se apenas contassem

as paisagens retidas no olhar imorredoiro. 

E depois

deixamos em palavras

o nosso festim

os beijos que as bocas incensaram

os corpos em forma de dádiva

semântica de desligamento

uma fábrica com a mão-de-obra insubmissa.

Esta é a fratura exposta

sem gesso como remedeio:

exposta

por não se esconder de segredos

e neles se tornar o magma fundo

dos próprios segredos. 

Não contamos com prazos de validade

nem somos candidatos à angústia. 

Os medos contam como candeias:

à sua custa

superamos as cordilheiras remotas

soubermos ser 

poetas antes do próprio poema. 

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