8.12.22

Vindima

Bebemos as mãos;

as mãos que tudo têm para contar

elas, 

servidas na fábrica do entendimento

em que tudo se anestesia

em perguntas 

que levantam as cores do céu. 

Tu dizes:

dou-te o meu perfume

nos versos que as mãos desenham 

no teu corpo. 

Eu esperava. 

Fingia dormir

enquanto as tuas mãos

faziam do meu corpo um mapa

e não podia fingir

não podia fingir

que a madrugada não fala ao ouvido da noite

nem as pétalas vertidas pelos teus dedos

eram como a cura 

para o que precisasse de cura. 

Lembrava 

os novembros desmaiados,

como eram compensados

pelo teu sussurro que me cercava

como se fosse abraçado por uma ideia de ti

pois de ti 

sabia de cor a cor que havia por saber

os tremeluzentes dedos ungindo as palavras

com o prazer irrenunciável;

o prazer de nós sabermos 

à distância das mãos

e por elas falarmos

as estrofes de poemas apenas guardados

na memória.

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