Bebemos as mãos;
as mãos que tudo têm para contar
elas,
servidas na fábrica do entendimento
em que tudo se anestesia
em perguntas
que levantam as cores do céu.
Tu dizes:
dou-te o meu perfume
nos versos que as mãos desenham
no teu corpo.
Eu esperava.
Fingia dormir
enquanto as tuas mãos
faziam do meu corpo um mapa
e não podia fingir
não podia fingir
que a madrugada não fala ao ouvido da noite
nem as pétalas vertidas pelos teus dedos
eram como a cura
para o que precisasse de cura.
Lembrava
os novembros desmaiados,
como eram compensados
pelo teu sussurro que me cercava
como se fosse abraçado por uma ideia de ti
pois de ti
sabia de cor a cor que havia por saber
os tremeluzentes dedos ungindo as palavras
com o prazer irrenunciável;
o prazer de nós sabermos
à distância das mãos
e por elas falarmos
as estrofes de poemas apenas guardados
na memória.
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