Sem meias medidas
o naufrágio estrepitoso
açambarca o ocaso abreviado.
Não se compensam as falas arrependidas
autênticos bálsamos de farsas
todavia,
farsas legítimas;
pois se tudo não passa
de um teatro imenso
cobrindo todas as latitudes e longitudes
traduzindo os verbos venais
por semântica com direito a panteão.
O que dizer dos mares arrevesados
que industriam o naufrágio?
Que dizer dos náufragos
pois se ninguém se convoca
para o papel de vítima?
A indulgência atravessa os corpos
deita-os na rota das culpas sem autor
– ao contrário da cozinha de autor
esse terrível modismo
em que o autor se apega ao narcisismo.
A indulgência
é a pior traição
de que podemos ser avalistas;
não remedeia naufrágios
nem sumptuosas e, porém, risíveis
exibições de candidatos a arcebispos da idiotia
pese embora a idolatria
pese embora
as tentaculares redenções
que não passam de disfarces.
Que os vultos perenes
não descolonizem o horizonte.
Se a manhã não fosse infernalmente crepuscular
seríamos autómatos da indiferença
sitiados numa enseada sem saída
condenados a ruminar
entre as perdes corrompidas de um labirinto.
No fundo
estaríamos no fundo
sem sabermos;
que é a geografia própria
de quem foi abraçado
pela pérfida sereia
do naufrágio.
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