7.12.22

Naufrágio sem socorro

Sem meias medidas

o naufrágio estrepitoso

açambarca o ocaso abreviado. 

Não se compensam as falas arrependidas

autênticos bálsamos de farsas

todavia, 

farsas legítimas;

pois se tudo não passa

de um teatro imenso

cobrindo todas as latitudes e longitudes

traduzindo os verbos venais

por semântica com direito a panteão. 

 

O que dizer dos mares arrevesados

que industriam o naufrágio?

Que dizer dos náufragos

pois se ninguém se convoca

para o papel de vítima?

 

A indulgência atravessa os corpos

deita-os na rota das culpas sem autor 

 

– ao contrário da cozinha de autor

esse terrível modismo

em que o autor se apega ao narcisismo. 

 

A indulgência

é a pior traição 

de que podemos ser avalistas;

não remedeia naufrágios

nem sumptuosas e, porém, risíveis

exibições de candidatos a arcebispos da idiotia

pese embora a idolatria

pese embora

as tentaculares redenções

que não passam de disfarces. 

Que os vultos perenes 

não descolonizem o horizonte. 

Se a manhã não fosse infernalmente crepuscular

seríamos autómatos da indiferença

sitiados numa enseada sem saída

condenados a ruminar 

entre as perdes corrompidas de um labirinto. 

 

No fundo

estaríamos no fundo

sem sabermos;

que é a geografia própria

de quem foi abraçado 

pela pérfida sereia

do naufrágio.

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