É a fulgurante incisão dos desacontecimentos
como se fosse
o desapertar de uma camisa-de-forças
a lava intempestiva que fala com a boca do vulcão
ou a cordilheira que se agiganta no espaço do olhar:
em tudo
espectros demissionários
vultos às voltas com insónias
extintos, enfim,
com a água retirada de uma boca de incêndio,
as mordaças que calaram o passado
os fogos ateados à pele arrefecida
os palcos feitos de sobressaltos
os hotéis onde moravam pesadelos mordazes
todas as vendas que condenavam ao silêncio
e as cortinas onde desmaiava
o entendimento de tudo.
Agora
só contam os agoras retesados
num leilão sem agenda
a boca que precisa das palavras irrefreáveis
o teatro onde se jogam as farsas sem máscara
contra os mendazes que enchem a boca de verdade
(em mentiras elevadas ao quadrado)
os vocais embaixadores de causas avulsas
que escrevem leis de bronze em camas de xisto,
todavia,
em tinta sem ser impermeável
que se abate com as chuvas inaugurais.
Este é o desacontecimento
a desfiguração do mundo teimosamente ideal
reduzido à sua imensa fragilidade,
enfim,
ao reconhecimento da sua escondida fortaleza.
Sem aspas nem metáforas a arredondar as palavras
sem compensações por perdas que são pretextos
sem o exaurido lugar em que todos procuram
habitar um lugar
que não é seu.
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