1.6.23

A pele do avesso

Virada a pele do avesso

um desassisado vulcão 

de frente para o precipício

sem rastilhos por atear

sem outras partidas

a servir de cais.

Do avesso

em vez de avulso

a lareira dentro da boca

e a incandescente tocha à espera de erupção

domando o sal que vem com a manhã.

Avesso me encontro

às tágides como trovoadas

inspiradoras que inspiram um avo

antes que sejam fermentadas 

pelo efémero que não entra no dicionário.

Ao vaso centrípeto

onde o sangue se deslaça

e tudo deixa de ser ontem

a pele avessada deixa de ser

em bordões de carne sem prescrição

a teimosia que derrota os mastins sem rédea.

E de volta do avesso

a pele desembaciada golpeia as uvas certeiras

antes que as abóbadas do apocalipse

sejam bilhete postal

antes

que as rodas desimpedidas sejam travejadas

no provável logro dos medos

na fatiada vida servida em fascículos

contra o princípio geral do bocejo

e a alardeada sinfonia 

dos que vão de braços em baixo.

Para saber da pele

é preciso levá-la ao avesso

extingui-la das viciosas coleções dos dias

macerá-la no vinho frágil

que a torna a mais vívida fortificação.

Sem comentários: