Um peregrino
(parecia um peregrino,
ou talvez fosse um mendigo)
avança devagar
apoiado na estrada.
Arruma com os pés as flores
deixadas em bandeja no chão
como se o chão tivesse suplicado
um tapete aromático.
O peregrino
ajeita os andrajos
(seria um mendigo?)
e murmura
com ar de poucos amigos
o que ninguém consegue retirar
ao silêncio.
O peregrino
participa a solidão:
há quanto tempo
não fala com pessoas?
e esta interrogação
arbitrária como a suposição
só é válida para quem a formula.
Ninguém pode dizer ao certo
o que vai por dentro do peregrino
(e também não por dentro do mendigo).
A fivela à cintura descaiu
e o peregrino acerta-a:
não quer ficar
com as calças na mão,
o mendigo
(ou será o peregrino?).
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