28.6.23

Magistério

Abotoado o saber 

o dia casava-se com os frutos silvestres

amortalhados entre os arbustos. 

 

As mãos macias 

diziam

que era de serenidade 

que o entardecer se fazia

pressentindo o luar como dádiva

para que na sua luz demiúrgica

fossem os sonhos murados. 

 

Sem saber

um motim interior açambarcou o cais

como se as amarras voejassem sem rédeas

ordenadas pelo vento castigador

e não houvesse chão 

entre o corpo e o mar. 

 

A convulsão enfureceu os verbos

e toda a gramática era errante

sem as alvíssaras de um sextante

à mercê do vento avesso que trespassava o rosto

povoando umas rugas mais

o pesadelo sem âncora

com guarida para morder fundo

até ao osso. 

 

Mas era só isso

um pesadelo agitador

a conspiração dos vultos 

escondidos nos bastidores

por coragem ausente 

de mostrarem de que coragem (não) são feitos. 

 

Apanhados os destroços

a contabilidade dos danos 

pariu um rato. 

 

Os pesadelos 

não contam

no desembaraço 

da alma. 

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