12.11.23

Avinagrado

A tabela térmica

respira a febre da pele:

as erupções devolvem luz à noite

e não se fale de eclipses

não desembaracem o lagar

onde as uvas fermentam de véspera.

É pelas varandas que as falas se juntam

as casas são uma prisão arrematada

lúgubres, sombrios espasmos de rotina.

 

As pessoas

habituam-se aos hábitos.

 

Não se demovem 

por luares nómadas

ou lances ousados 

que viram o jogo do avesso

os génios sempre adiados.

Só querem a usança

refeições à hora marcada

a purulenta televisão

onde desfilam malquerenças 

e personagens escaninhas. 

O fumo ao longe

não é um atestado de cemitério:

o vento assina as árvores

a durável concessão dos homens

máquinas em barda

a lava da civilização

como se contássemos os quilos de ferrugem

no inventário da abastança. 

 

Não se interpõem os deuses

que também dormem. 

Quisessem mediadores,

encontrá-los-iam nas medas avulsas

a meação que junta as mãos separadas.

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