14.11.23

Sangue e lágrimas (a demissão da angústia)

O sangue confundia-se com lágrimas. 

Os derrames vertiam cicatrizes

a pele era asfaltada 

por tatuagens involuntárias. 

Há quem solte o freio da angústia:

não sabem 

ou não admitem

que a angústia 

não é tão imediatamente involuntária

como as tatuagens herdadas de cicatrizes. 

Despojam-se

como se dessem autoridade à comiseração

e precisassem da tutela dos apiedados

para baixarem a temperatura da angústia

sem tomarem conta do periscópio

que previne que se deslacem do exterior. 

Afocinham

numa mistura putrefeita 

de sangue e lágrimas

e adiam o cais metodicamente generoso

que pavimenta a dança sem regras que precisam

para não serem reféns 

dos seus próprios ardis. 

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