Não
é do cálice embotado
nem
do vinho azedo
ou
das lágrimas defumadas.
Não
é dos dos pólenes que voejam
nem
da matéria canhestra
ou
dos pátios lavados em poeira.
Não
é pelos braços da química
nem
pelas escadas descalças
ou
pelas saias encardidas.
Não
é o crucifixo sem cor
nem
as preces ocultas
ou
as divindades sem identidade.
Não
é da noite interminável
nem
da alvorada em sucessão
ou
do rasto do dia em plantão.
Não
é da febre polida
nem
dos medicamentos indigentes
ou
dos médicos-feiticeiros em pose sobranceira.
Não
é do tempo indevido
nem
do tempo ainda furtivo
ou
das tágides metidas em vestes sumptuosas.
Não
é de ontem
nem
de agora
ou
de um outrora qualquer.
Não
vem afivelado pelos segredos
nem
coberto por seguros impacientes
ou
sequer planeta perfeito.
Não,
não e não.
É
tudo no seu contrário.
Correrias
loucas atrás de nada;
músicas
descompostas em pautas avariadas;
luzes
cínicas atravessando o olhar;
livros
empilhados sem saberem se são lidos;
flores
em decomposição, mas belas;
divindades
ausentes sem angústia;
mapas
coesos de projetos ousados;
promessas
assinadas a sangue fervente;
casas
desenhadas com os dedos;
palavras
desenhadas na mesa, com os dedos;
gentilidades
obnóxias;
lucidez
arrogante;
decadência
em forma de tempo prometido;
bustos
esmagados contra o ar soerguido;
preces
imprecisas sem divindade;
mãos
húmidas secas no suor quente;
lençóis
gastos pelas alvoradas incessantes;
ardilosas
palavras que enfeitam silêncios;
frutos
doces à boca de cena;
cadeiras
desorganizadas na sala vazia;
o
entardecer com os olhos derretidos no mar;
a
pele macia de quem tanto se quer;
as
paredes lívidas que sufragam desejos;
o
jantar opíparo preparado com parcimónia;
o
sono inteiro sem intermitências;
o
corpo gasto no cansaço, todavia jovem;
a
memória avivada;
o
fantástico bocejo de todos os outrora;
e
o beijo na armadura do tempo que é hoje.