30.10.15

O tutor do tempo

Escolheu
a máscara de Sísifo
os óculos do astronauta
os sapatos verdes
os frutos amargos.
Traficou
ideias vetustas
portfólios empoeirados
desenhos em papel amarelo
cães infantes condenados à vadiagem.
Escolheu
incenso de flores campestres
beijos quentes de musas ao acaso
páginas de livros marcadas
medicamentos perenes para as dores.
Sabia
dos sonhos inúteis
das ambições estéreis
das alocuções exaltadas
da terra queimada.
Nem assim capitulou
às ondas tempestuosas
aos espinhos debaixo dos pés
aos punhais que queriam o sangue do peito
às noites temerárias da solidão.
Tudo se resumia
à máscara de Sísifo:
ou o cais feérico da lucidez.

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