13.10.15

O pseudónimo forçoso

Não adianta
perseverar na obra
se os círculos competentes se encerram
no bastião dos dogmatismos.

E quem tutela os dogmatismos?

Gente
que morde a palavra democracia
que lambe a palavra tolerância
que se estica, em bicos dos pés,
no altar sublime do julgamento dos outros.
Gente que,
ó todavia,
apenas morde e lambe e estica
sem praticar o que as palavras encomendam.
Catedráticas pulsões da subjetiva arte.
Não entrar no círculo é fatal:
desmerecida a obra
na acutilância das recensões escondidas
em hermética erudição,
sobra a vastidão do nada
o esmagamento ao nada;
mas as sumidades falam no vazio,
palavras estigma que apoucam a obra revista.
E ai se ousas meter o baraço
pelas ideologias erradas:
por condenação liminar à anti-arte
esquece os cardeais da publicação
(ou esquece o sustento se achares que nela o acharás).

Pode não chegar
para a levitação artística:
é só recusares os imperativos categóricos
que rimam com imperativos ideológicos
não andares de braço dado
com os companheiros certos
nem assinares os exatos abaixo-assinados
ou não fazeres coro
com a turba que educa as massas;
destino o teu,
candidato a artista,
traçado:
de candidato não passarás
devolvido à penumbra onde não medram criadores.
Pois os tutores da estética
os paladinos das artes
os afocinhadores que retiram da merda
a arte que interessa legar ao público
(ao público ordeiramente instruído)
são sumidades à prova de provas
bestuntas presunções cognitivas
deformadores das artes desde o pináculo da ideologia.

São como os reses que afocinham
em lamacento solo em demanda de trufas.
(Sabes o nome dos reses, não sabes?)

Deviam ir para a política
onde se juntam os mesquinhos quase todos.
                
Oxalá pudessem as cores das artes
desprender-se de peias ideológicas,
sem os freios que adulteram a sua exegese.
Em assim não sendo
saibam os que afiam a lapiseira
para o lugar de candidatos às artes:
o respeitinho às sumidades
é condição primeira para o reconhecimento.
E ai de quem soletre, pausadamente,
e-n-d-o-g-a-m-i-a
que suas sumidades expelem indisfarçável fel
e assinam a sentença fatal:
pois que a quem assim acusa
não é dado o respeito pelas sumidades.
A maior das heresias!

Ato contínuo:
o ostracismo.
Esqueçam que podem ser arte(s).

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