7.10.15

O melão aberto

Partido em quartos
resplandecendo amarelo esverdeado
(que também podia ser verde amarelado
– depende do olhar afinado):
o melão garboso mostra-se à clientela.
Comam o melão ufano
– adverte o preço de saldo.
Mas se é de saldo seu preço
ponham compradores potenciais
as barbas de molho:
nunca fiando
quando a esmola fermenta tão abundante.
Mais a mais
deve a suspeita trinar:
como pode o pobre melão
ostentar sorriso que pesca o comprador
pela boca da ingenuidade
se o melão assim esventrado
não é, decerto,
produto da sua vontade?
Ardis do marketing, parra seca.
Caem os incautos
os que sucumbem às árias envenenadas
dos mercantes sem remorsos.
Que isto do capitalismo
é cicuta que traz a humanidade pela trela.
(Ó verdade insofismável!)

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