Odeio ismos.
Os rótulos adjacentes
as categorias herméticas
as peias por cima dos ombros
a desopulência dos maneirismos binários
o raciocínio ligeiro e cerce
a fantochada de uma esgrima pueril
as desavenças sem chão
as arritmias das oposições gratuitas
os olhos vesgos pela lente baça
os corredores estreitos por onde amesendam
os fartos vilões da mesquinhez.
Odeio que tenha de ser um ismo qualquer
que me amordaça às frugais paisagens
de quem assim se reduz.
Odeio ser atirado para os braços de um ismo
sem ter pedido esse lugar
e depois
aturar os algozes das categorias herméticas
dedilhando as minhas incoerências
quando uma ideia se soergue
contra o ismo em que me meteram.
Odeio as sindicâncias dos outros
à mercê dos ismos a que me prenderam.
Odeio não ter liberdade para alojar ideias
no promontório que me apetecer
sem logo aparecerem os mastins dos ismos
a descobrirem um (ou mais) para minha trela.
Lamento
a estreiteza dos frequentadores de ismos,
imodestos marceneiros das ideias acantonadas
aviltantes de si mesmos na cegueira sua.
Lamento (e odeio)
que se tenham inventado ismos.