10.1.17

Atestado

Da escola perdida
entre os estorvos do tempo
parecem braços atados ao vento
perecem as ardósias gastas
e há luzes efémeras beijadas no estendal.
Os vidros partidos
selam a perda de outrora
de um tempo junto nas mãos
agora áridas.
Ao fundo
a vila anestesiada
um velho dormindo sobre o cajado
enquanto arrefece o banco do jardim.
A bússola diurna levanta os ecos
desarmando os rituais inertes
devolvendo às pedras brancas
a chuva eterna.
Sobram as vinhas douradas
e o peito inteiro nelas deitado
ao fundo
o rio maior
em rima de amor
(em rima com o amor)
varrendo as margens que o não interrompem.
Uma alma angariada
entre montes íngremes e cascalhudos
sem medo dos lacraus
sem medo do relógio transido
sem medo da gente meã
ecoando no rumorejo do rio distante
como se o ouvisse em sussurro junto ao ouvido.

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