30.1.17

A chama

Pois,
a chama.
Delicodoce.
Como um abraço.
Sentinela.
Na atalaia urgente.
Com os braços quentes
sem estiolarem no inverno.
A chama.
No crestar dos ramos secos
a fogueira repleta.
Sem chama vivaz
o pasto mortiço.
E na chama
as sementes loquazes
um esteio escorado
as cinzas testemunhas
o dorso orgulhosamente retesado.
A chama que chama
pelos corpos serenos
em sua feição celeste
domadores dos mares irados.
A chama, pois.
Trezentas noites urdidas
sem a pele macilenta
apenas por dentro dos olhos ardentes
dos olhos que resplandecem
a chama.
Leva os latidos dos cães vadios
levanta o abraseado da alma
limpa os corredores esquecidos do pensamento
nas levadas alcantiladas
nos sopés majestosos
nos luares quiméricos
nos lugares vazios, até.
Sem a chama
condenação ao arrefecimento global.

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