31.1.17

Os eleitos

Das folhas frescas
no parapeito do orvalho
sobra um pedaço da manhã
como se houvesse carestia 
em lembrar a manhã. 
Num amontoado de nuvens rasantes
medra o néctar procurado
os dedos ungidos por préstimos não sofríveis
o peito cheio de vida cheia
um desfiladeiro apreciado desde o fundo vale
um caule decadente de uma flor 
arrancada ao chão
as pessoas de cujas vidas se sabe nada
um nada concentrado nas páginas não abertas 
de livros que esperam vez. 
Oxalá o chão fosse atapetado 
por pétalas lilases
pétalas que derrotassem os pesares amorfos, 
que não capitulam. 
Como se fosse preciso
levantar estátuas imediatas
a heróis sem probabilidade,
eleitos sem eleição
no mais puro hiato
entre a indolência dos povos
e uma soberba linhagem
sem gente por representação. 

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