24.1.17

Fio de prumo

Em tempos
fui arquiteto das estrelas.
Depunha as mãos numa mina seca
e conseguia trazê-las molhadas
deixando água aos vindouros.
Em tempos
cinzelando as arestas das estrelas
fermentei o sal das dunas
sob o olhar inquisidor do sol superior.

À maresia
ia buscar as lágrimas
enxugadas contra as rugas da fazenda gasta.
E nem que visse crianças em prantos
as bainhas da alma se descompunham:
tal era um estado transitório
pois não há água que chegue no mundo
para prantos imorredoiros.

Os tempos
em que fui arquiteto das estrelas
não findaram.
Só que hoje
na bússola do tempo
por entre as traves encardidas dos bosques
e as ruas estouvadas das cidades
vagueiam almas vadias
almas impertinentes
almas que desajustam o tear dos auxílios.
Não precisam de estrelas para nada.

Ainda bem.
Era oneroso ser arquiteto das estrelas
e ter por esteio os lamentos dos outros.

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