19.1.17

Na sela de um cavalo sem cabeça

Aposto
três dias de soldo
no insaciável magusto das lápides.
Aposto
como os artesãos
não deixam de as talhar. 
Não que venha grande mal ao mundo,
que os lugares atulhados
(e, ainda por cima, de imorredoira gente)
seriam destino inenarrável,
coutada de gente-fantasma
e de fantasmas feitos gente. 
Em má sendo uma hora,
que Ícaro cuide dos vivos
em tratando de encomendar lápides
para os que são tidos na roleta dos sobrantes. 
É costura que ninguém consegue derrotar. 
Os artesãos cuidam
de eternizar os desvividos em lápide:
ao menos por uma vez
um aplauso
mercê do punhado de palavras
cinzeladas em forma de elegia. 
(Ou o derradeiro solfejo de Ícaro
em paradoxal cartel com Tanatos).

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