O contraste
lunar nas costas nuas
no dobrar
quimérico
nas mãos
aquecidas
nas lágrimas
viradas do avesso
um rosto
cinzelado nas ruínas do prazer
no inconfessável
mar proibido
nas rodas
dentadas que não se aquietam
e na promessa de
um amanhã igual
(pelo menos),
os retrocessos
vedados no vocabulário.
Ah!
sobra nas
esquinas de mim
aquele mel sem
cor
o mariscado néon
vertido pela lua-império
a alvura de tudo
misturando-se com tudo
na sublime
ênfase da soberana vontade nossa.
Escrevemos no ar,
com os dedos
entrelaçados
em movimento
contínuo,
as estrofes que
são o sortilégio nosso
as camas testemunhas
os olhares singulares
os esteios
arpoados
a saliva sentida,
quente
as roupas sem
corpo
e o corpo que
pede meças ao corpo sua metade.
Oxalá sejam
intemporais
os vestígios de
loucura
as baias que se
desfazem no sargaço colhido
a entronização
do que somos,
soberanos.
Se contarem com
o vento púrpura
adornado pelos
nossos lábios
como jogamos os braços
numa coreografia
e da varanda
sobranceira
guardamos os segredos,
o nosso desmedido
património.
Misturam-se os
cabelos
com a porosa
teia do mar.
Somos o forro do
tempo
a caução cantada
no imorredoiro cabaz
que trazemos a
tiracolo
no céu uníssono que
desenhamos
com as mãos
insaciáveis.
Somos o forro do
tempo
sem esquecer de
o consagrar
às divindades
que residem em nós
– às divindades
que somos nós.
Somos tutores da
manhã ampla
dos marcos
geodésicos a que subimos
das nuvens que
apascentamos desde o vértice
com a chuva à
mão de semear.
E de um porvir
que não leva fim.