20.2.17

Entronização

Sem saber nadar
atiro-me para dentro dos teus olhos
o poço de águas leves
a carne quente onde repouso
no beijo macio que traz tempo de volta
e os olhos que marejam no cais sentinela
algures numa lua sem freio
onde somos despojados por decreto nosso
sem as vestes por defeito
apenas corpos em entrega
e o mergulho nos olhos recíprocos
com o sal quimérico
o suor doce
as camas desfeitas
as roupas perdidas
as montanhas transfiguradas em planície
os navios dos nossos olhos quentes
onde selamos o baluarte de nós
desatando os nós túrgidos
as alfândegas a destempo
as flores metidas no seu avesso
os lençóis frios à espera de fogo
em tempo sem tempo de que somos reis
num palácio sem mapa de que somos tutores
sem mais nada lá fora
a não ser o que os nossos dedos desenharem
num dote ímpar.

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