27.2.17

Naufrágio

Visto do naufrágio
e vistas as ausentes boias de salvação
sobrava mar de mais
e nadar.
Frias as águas
e tempestuosas
sinal da empreitada abruptamente
impossível.

Os braços não capitularam.
Passaram
a meio da tempestade
as frugais imagens em rol de memórias
alguns arrependimentos
um punhado de proezas
orgulho reprimido
a infatigável perseverança na espécie
os rumores das cinzas imprestáveis
o fogo que se emaciava no penhor das forças
e todo o musgo dos sonhos.

Os braços não capitularam.
Sentia o estrépito das ondas no rosto
constantemente esbofeteado
como quem se desforra do pretérito
em havendo contas por saldar.

Uma centelha esbracejava
no que parecia ser ao longe
entre as bofetadas de mar
e os levantamentos do vento indomável.
Podia ser um farol.
Um navio em socorro.

Não era
(ainda)
tempo para capitular.

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