24.2.17

Vade-mécum 

O abraço da maré alta
em convulsões dionisíacas
mostra o pulsar da manhã. 
Nestes preparos
volto ao lugar eminente
onde as safras enjeitadas vão a jogo
e perfumes diametrais se cruzam nos corpos
e os pés molhados se entaramelam na areia. 

Sempre quis indagar
o que escondiam as rochas submersas
sem ter de esperar pela maré baixa. 

Quis só poder perguntar
que danos viriam em meu pleito
e não tanto
como podia terçar armas em contrário. 

Não pude esperar pelo anoitecer. 
O abraço da maré era convidativo. 
E eu depunha os pés algozes
na fria água que rompia a areia
onde o mar frutuoso tinha embocadura. 
Desaguei num cais vazio
o mar parado por companhia
e o grasnar irado das gaivotas em redor. 
Parecia um lugar sombrio
desolador
a bruma da decadência
que não julgava por penhor. 

Em vez de fugir
demorei-me
a apreciar o lugar. 
Acendi um cigarro amarrotado
à procura de sinais de fumo. 

Só parei 
quando as ruas
deixaram de estar desertas
e a noite foi removida pela manhã fresca. 

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