6.2.17

Proveito

Na armadura à prova de lagos
com o sextante no bolso
os óculos de aço embrulhados
o violino que não sei tocar
e o bornal cheio de estrofes.
Tiro as maduras medidas
na varanda do sol.
Cicio umas palavras
– umas quaisquer,
as que vierem ao alpendre –
e proclamo,
com solenidade,
os aventais subidos aos cotovelos.
Talvez não saiba
o que estou a fazer.
Talvez sejam as folhas sujas
(da sujidade das ruas)
que atropelam o pensamento audaz.
Lá que isso não interessa
é a profecia mais célere
que sobe ao púlpito da vontade.
Volto a olhar para o que vem ao olhar.
Apreciando.
Com estes olhos-matilha
inquietos
nunca assoberbados
como se fossem bandeiras lambidas pelo vento
pródigos porta-vozes das distintas medalhas
que esperam por vez.
Às tantas,
digo em silêncio
(rompendo o silêncio armilar):
oxalá estivesse o pensamento calado
furtivo no calado do silêncio.

Sem comentários: