23.2.17

Cidade nua

As asas de um noitibó
descidas
nas ramagens agitadas
onde um ancião se esconde do caçador.
Uma serpente persevera entre os arbustos
e na Nova Zelândia o curador de artes
rompe os sacos do lixo
desenganado com o capitalismo.
Muitos porventuras depois
em estilo obnóxio
com um certo desdém típico dos lordes
o cantor de ópera escorrega na chuva
esbarra no rosto enrugado de uma peixeira.
Na praia oblíqua
sem remar contra os pesares do mundo
apenas adestrando sua madraça condição
a esguia manequim
mete-se num parêntesis do pensamento.
Talvez esteja certa.
As explosões sem critério
desfazem a muralha propedêutica
e os financeiros atinados ficam sem verniz.
Muitos porventuras depois
nas gargântuas viradas do avesso
entre três colheres de flor de sal
e igual medida de um unguento secreto
os meninos ímpares sorriem nas esquinas do dia.
Não sabem sequer saber a dor
a menos que um sacerdote episcopal murmure
desejos inconfessáveis.
Os gatos vadios sentados no telhado
apreciam o resto.
E as rugas anciãs
sem ramagens onde aportar
são peregrinas na imagem sentada
coalhando os néctares precisos.
Amanhã tudo seria um igual singular.
Amanhã
as mãos seriam operárias
no amassar da massa indiferente
e os placards resplandecentes apagar-se-iam
por um minuto que fosse
para deslaçar o silêncio jurado.

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