1.9.17

Holiday spam 

Mr. Evans
takes the tale to warm, quiet seawaters
down under
(the poolside leaves he never, nonetheless)
where flimsy, free booze
awaits at the edge of the pool 
crafted
with noisy, immensely red-tanned bodies
in chasm, sterile waters
with dodgy parcels of clown apparels
while plentiful unsatisfied women
starve Latinos
with their unfinished desire. 

Mr. Evans
crafts a pyramid at lunchtime
waving relief as foodstuff survived
to archeologic hunger
while spits unwanted spoils 
carving irascible anger
his own dearest must bear
for company.

Mr. Evans
points scrubs sniffing out
his daunting shoe apparel 
and,
if necessary,
jostles fingers on a public show 
of simultaneously utterly hygiene 
and anaesthetics. 

Mr. Evans
praises his goddess
the holy, icy juice of wheat
bringing him to nirvana 
to a democratically-deserved heaven 
of filthy ear-say
noisy, relentless laugh
where obfuscated teeth should've place to mourn
where he blatantly sings
España te quiero
España my amor
putting an end to the performance
with loathing sayings about Latinos
(maybe, just maybe
chocking envy
about something that sticks down
on his own). 

Mr. Evans
locks in a heaven of his own
or should we dare to say –
a haven of recalcitrant existence 
fading away unstoppable shadows 
that obliterate the other fifty-one weeks 
the remainder equator of silent,
almost sleepless,
fading out
of Mr. Evans. 

31.8.17

Etecetera

O feiticeiro guloso
embarriga os alarves como ele
(indisposto com a concorrência).
Besunta as mãos
no lodo retirado ao fundo do poço:
não quer vestígios de incriminação
nem ser destronado
do púlpito onde pavoneia
garbo reconhecido.
Um dia
tirou o dia de descanso
e apalavrou a distração.
Um acaso
no regaço de aleatória personagem
dando cunha à desbragada curiosidade
mostrou ao mundo
o armário de barbáries.
E o feiticeiro ficou prostrado
na profunda, irremediável
decadência.

28.8.17

#295

Lost and found:
if lost, must fund
whereas
fond are the affections
to the lost. 

27.8.17

Estação de serviço

Desfeitos os temores
na margem das túnicas aristocráticas
tem-se balança versada
como mediadora filial. 
Os átomos todos juntos
varridos nas sobras da maré 
percorrem os campos vazios,
sua sementeira prometida,
numa medida vindoura. 
O beijo contumaz,
Rarefeito,
na liquidez dos templos esquecidos
desmatado no sopé alindado
com as nuvens esgaçadas 
no mosto da alvorada inesquecível. 
Haja sempre âncora por lançar
e cais espreitado nos interstícios da viagem;
os tempos de sobra
autênticas praias sem remoço,
onde não há lápides
nem almas algozes,
são o crédito em falta
no altar onde tem franquia
o repouso. 

26.8.17

#294

O fundo penhorado
na dilaceração do lamento,
matéria vagamente incandescente.

25.8.17

E quem se importa com isso?

A rosa manchada
com o sangue dos bárbaros
– e quem se importa com isso?

O lugar vazio
com a facúndia dos estultos
– e quem se importa com isso?

Os braços cruzados
na demanda de empreitadas
– e quem se importa com isso?

Os olhos
suados em lágrimas
– e quem se importa com isso?

O mendigo apessoado
e a rapariga da loja sem curadoria
– e quem se importa com isso?

Os documentos esquecidos
e as palavras impensadas
– e quem se importa com isso?

O hoje sem suspensórios
e o amanhã cicatrizado
– e quem se importa com isso?

As ideias tresloucadas
e a ausência de critério
– e quem se importa com isso?

Um verso escorreito
emparedado em convulsões interiores
– e quem se importa com isso?

A tinta lavada das paredes
e as paredes à espera de linhagem
– e quem se importa com isso?

A mão trémula
na tergiversação dos indomáveis
– e quem se importa com isso?

O desmatar do inenarrável
e as virgens púdicas
– e quem se importa com isso?

A integridade
e a totalidade do mundo
– e quem se importa com isso?

24.8.17

Esconderijo

O esconderijo
sem janela por aceitar.
Ar quente
e peito transido
odor a angústia.
Deitar por terra
a capitulação covarde,
o paroxismo do desejo.

E depois
com os nós contados
as redes enredadas em nós outros
o céu pesado acotovelando-se sobre o dorso,
o estrangulado pretérito
no parapeito das memórias.

Vendem-se inverdades
no logradouro dos pretextos.
Aceitam-se os endossos
e a miríade de daninhas ervas
embota a pele arrevesada.

Não
não quero o abismo sem alma
intimações ermas
rios que atravessam pontes partidas
a combustão das exprobrações.
Não quero ser dador
de vocábulos irados
de intempéries à flor da pele
da paciência que se esgota em impaciência.

Vejo ao longe
com o olhar deitado no retrovisor
o entardecer bucólico.

Deito a perder os montes e vales
entre mim e esse lugar
o bucólico ninho que esconde o retiro.
Esconderijo com chave a preceito
preparada para destravar os nós a eito
janela quimérica
à espera.

#293

Erre.
O nome da letra
ou verbo?

#292

Entre aspas
regras a zero
e vale tudo.

23.8.17

Desdemona

A falésia:
logradouro das coisas frágeis
à volta dos cósmicos prados,
espraiado
na bucólica praia sem sombra.
No tira-teimas avulso
explicam-se ao luar as tarefas
sem nó,
os predicados invulgares.
Logo hoje
que havia tirado o dia
para o semântico esquecimento
haveria de ter semelhante lembrança
e semelhante pensamento
sem pedir licença ao lagar do tempo
sem pedir meças
à líquida orografia do corpo.

#291

A espuma de um navio ao longe
funde-se no mar 
à medida
que o fio do horizonte emagrece.

22.8.17

#290

Das águas-furtadas
onde ninho têm os proscritos
bebem-se as proibidas palavras
(sem punição). 

21.8.17

A meu favor

O sal do corpo
a meu favor
no confiável estamento dos dizeres
na prestável curadoria do entardecer.
Do sal do meu corpo
os pigmentos alvares
sextante desarmado das lides rasuradas
entre congeminações sem sorte
e lápides usurárias.
Deixo que o silêncio
teça as palavras contextuais
na gramática liminar dos soberanos.

19.8.17

Rosto inteiro

Sabes?
Sei de um crepúsculo
onde as metades da noite
se juntam numa dança-sortilégio.

Sei
de uma concha escondida
onde as mãos se encontram
no purificado sentido da demora.

Sei
de um castelo distante
feito de flores maduras
onde as palavras se descerram
no involúvel murmúrio profundo.

Sabes?
Às voltas perdidas
contra os mastodontes do tempo firmado
convoco os sonhos que soubemos desfazer
em pedaços concretos
entre os nossos dedos.

A moldura:
os rostos nossos
no cintado destino açambarcado.

#289

O concerto das nações,
das nações sem conserto.

18.8.17

Joia

A rendição ao tempo
redenção sem medo
fundição do tempo
remissão no tédio,
o precipício em seu despenhar. 

As contas acertadas
intempérie da vertigem
contas em aprumo estimadas
destempero das inverdades,
o masculino estio arrefecido. 

A madrugada de alvenaria
braços ciciando soluços
madrugada sublimada
pureza ajuramentada,
     o distrate das iniquidades.

#288

Acudir
a severidade das intendências:
o reacendimento da alma. 

17.8.17

Desempreitada

Não me peçam açaimes
nem em congostas sórdidas
mesmo que disfarçadas
de templos vistosos
artefactos juvenis
imberbes
canhestros.

Não me peçam loas
nem a biltres desavisados
mesmo que embuçados
de gaiatos febris
insolentes
bezerros.

Não me peçam simulações
nem por artes superiores
mesmo que escondidos
em beócios venais
falsários
desalmados.

#287

Hoje
resistência em agenda
e o vazio anulado. 

16.8.17

Metodologia

Jogo a cabeça invadida
contra o paredão cintado
na ovulação demencial das ideias.
Espero
pelo silêncio hirsuto
a ver se as ideias sobrepostas
assentam em seu sono.
Peço
em preces mal estudadas
um lugar ciente
onde fome nenhuma atropele as vozes
e aos rostos sobrem nomes bastantes.
Vou às fráguas
que distam as léguas tantas
que mais apetece
um banco do jardim
página e meia de um livro
a rua estreita
o esteio afundado no embaraço dos homens.
Um vulto murmura:
desafia a jogar os dados
em vez da cabeça.
Deve ser um invasor
disfarçado de anjo malsão
só por querer que da cabeça minha
haja colonização furtiva
o açambarcar contínuo próximo da loucura.
Trago nos braços as espigas douradas
e não sei o destino seu.

#286

Uma lâmina de geada
abraça os ciprestes,
conserva-os dos astutos demónios.

15.8.17

Em desgraça

Sentinela adestrado
sua cartilha
a atalaia imorredoira
precatado contra camafeus
calígulas desprezíveis
em ensaiados atentados
contra a sossegada prole.

Sentinela distraído:
apanhado em sono profundo,
hostil pecado herético,
não decantou estroina
em endemoninhado desmando
escapando numa nesga da escotilha.

Sentinela sem arrependimento.
Tamanha era a demanda exigida
não soube domar a pulsão.

Os mandantes:
pressa na condenação sem contraditório.
Mandaram dizer
(logo eles, os mais timoratos...)
que são precisos bravos homens
estaleca à medida
do aprovisionamento da fidúcia.

#285

Margem em dilação
a meia casa na direção
e um emaranhado por embaciar.

14.8.17

Quimera

No microscópio ávido
olhos e cores e desejos
formas sem forma
um desenho do mundo
na bissetriz do desabrigo.
Não sei se é assim
que se congeminam as coisas
ou se devo dizer
às luas viandantes
e aos elfos sonhados
se a monstruosidade é palco
e nos sobra a resignação.

Oxalá tudo fosse
no seu oposto.

Afinal não sei.

Guardo em papel vegetal
os raios quase impercetíveis
de um desenho vitral
antes de o ocaso ter ciciado à janela.
Estimo saber que coisas diversas
se protelam no estirador abandonado.
Mais valia
um promontório ao vento
sem armadura
sem velório tenaz
ou as ondas furiosas de um mar diáfano.

Oxalá
soubesse ao menos
um lugar
um lugar que fosse
meu
património meu (em alternativa)
ou de outrem
e que eu pudesse tomar de empréstimo
só para me saber defenestrado da orfandade
numa torrente de fertilidade pródiga.

Atiro os olhos cansados
aos enredos passados em revista
no microscópio banal.

Não é preciso mais nada.
A não ser
o sono desalfandegado
a epiderme clara da não vergonha
o amor-esteio
e o rosto do amor-esteio
como castelo imperecível
na balaustrada do desejo sem freio
na mercê de um beijo quente.

Não é preciso mais nada.

#284

Consertado o fuso
o marinheiro perseverante
à espera
e um cais de braços abertos. 

13.8.17

Pronto pagamento

Supus as vincadas arcadas
sobre o mosto da maresia
sem contraprova remível
em andares cheios de poeira.

Em visceral rebeldia
desarmadilhada a vetusta janela
trouxe os olhos já não marejados
ao palácio onde esperavam
tenores em silêncio.

Embebi-me no silêncio
enquanto assistia ao rio
em sua marcha
sumptuosa.

12.8.17

Alumínio

Um véu
um vulto
viuvez sem sombra
ou então
prisão sem grades
prisão na mesma
labirinto sem dó
viuvez empenhada
vulto sem rosto
véu denso
e não metáfora.

11.8.17

Remédio

É deste magma
a lava indissolúvel
onde o fogo cospe contra a maré
como se eu fosse vespeiro
e por dentro
nas veias insondáveis e febris
houvesse um frémito virado do avesso
comenda diuturna sem convencimento
e as cinzas debulhadas na caneta mortiça
e eu
emancipado do pesadelo sortido
lavasse o rosto com as mãos secas
olhando no espelho vertical
de onde rosto algum tinha devolução.
As caldeiras aconchegadas ao peito
conferiam o calor singular
e eu
convertido à desimportância das coisas
tirava férias do tempo.

#283

Quinhentas mil vozes
no marmoreado céu
arrancam espinhos
ao orvalho sem data.

10.8.17

Da paciência

Espera
a espera que demora
na demora do tordo anónimo.
Na espera
sem marujo
embarcação fantasma
fundeada na doca-seca.
Como se nadassem em seco
gaiatos desvairados
e os gatos vadios
dançassem em correrias anãs
com medo de perderem os bigodes.
Dado o universo
como medida da pequenez
não importam as esperas
que a espera traz à espera
um módico de consistência.
Ainda há
quem lhe chame
paciência.