Cortejo as palavras
na coreografia redesenhada
no salto em frente
duas léguas por cima do precipício
e tenho na chama da lareira
onde crepita a rendição do simbólico
alimento filial.
Reveem-se os caudais fartos
onde navegam vocábulos enquistados
vocábulos à espera de reinvenção
(à espera da alforria)
na gramática que abre o peito
à imoderada lógica rompendo bastiões.
Não sossegam os dedos famintos
na insubmissão das palavras áridas
da tela sem cor a devorar a imaginação.
E as palavras sucedem-se
insurgem-se
lutam contra seu sopesar
deslimitam-se no sopé das fronteiras
desarmadilham-se das poeiras atávicas
falam idiomas versados no novo
idiomas falando entre si.
Cortejo as palavras
na fértil paisagem do pensamento
e sei
que as palavras de hoje perdem sentido
no turbilhão da memória futura.