Prolegómeno:
o suor expatriado
pelas rugas cansadas
verter-se sobre o pano flácido
e os cantos das janelas
descerram a paisagem que se desenha,
no ágil conforto do silêncio devolvido.
Não parece que seja critério,
o silêncio.
Amanhecem as tulipas pujantes
os bolsos abarrotando de versos estimados
entre ensaios e ensaios
sucessivos ensaios
que não desgastam o tempo.
A armadura cresce
com o pólen vívido.
Sabiam-se escorados os braços fluentes
eram o estibordo das marés apátridas
e não sabíamos da costura das palavras
não sabíamos
da feitoria que esbracejava as juras aladas.
Todavia
as mãos não desistiam.
Elas liam nos olhos das paredes
o palco escorreito
os druidas acalmando tempestades.
Já não era o prolegómeno.
Avançada a rede
éramos intrusos sem remédio.
Corremos no avesso da noite;
corremos, incansáveis,
no dorso de mitos hasteados
em vultos sem fartura:
domámos os medos enfim com freio
e a beleza atribuída,
em vários penhores resgatados,
cuidou da fortuna dos sonos.
Na sobra das marés
os pés nus aconchegavam
os seixos deixados para trás.
Na dobra das marés
jogavam-se os temerários pescadores
contra a volúpia das ondas em barda.
Logo seria possível a prova dos nove:
se os pescadores viessem ao cais
provada seria a generosidade como dom.
Ao menos para os pescadores
as portas insubmissas das divindades
ficariam povoadas.
Muitos outros há
privados do farol da metafísica.