Não peçam à lua
para ser o covil da noite
a constelação perdida
onde se aformoseia
o olhar dos decessos.
Não peçam aos tumulares príncipes
para abdicarem de seu reino
não peçam
que a diáspora dos vivos
é má recomendação
tortura soez
a quem da vida já teve seu quinhão.
Não peçam aos ardinas
e aos sinaleiros
e ao homem que reparava guarda-chuvas
e aos mineiros
para saírem do atoleiro dos idos tempos
não peçam
que o tirocínio dos hodiernos tempos
seria sacrificial
um punhal deixado a sangrar,
e sem limite de tempo,
na sua memória sem tempo.
Não peçam aos eruditos
citações em latim
evocações dos gregos filósofos
não peçam
para glosarem as costuras
de um mundo a desmodo
antes que apanhados sejam
a delinquir numa revista mundana
ou nos carnais meandros do hedonismo.
Não peçam aos estroinas
pacientes leituras em letra miudinha
retiro ao invés de boémia
palavras com o aval de poemas
o medo da morte
a devolução da História
para fora das páginas dos calhamaços
um boicote à frivolidade perene\
não peçam
o oblíquo pesar
que os extrai ao mundano adejar.
Não peçam
se não o que pedido puder ser
ou acabamos todos,
em contramão
e à espera do frontal choque,
até sermos despedaçados
pela boca iracunda
de uma tempestade castrada.