22.7.20

A boca cheia de impossíveis

Não peçam à lua

para ser o covil da noite

a constelação perdida

onde se aformoseia 

o olhar dos decessos.

 

Não peçam aos tumulares príncipes

para abdicarem de seu reino

não peçam

que a diáspora dos vivos

é má recomendação

tortura soez

a quem da vida já teve seu quinhão.

 

Não peçam aos ardinas

e aos sinaleiros

e ao homem que reparava guarda-chuvas

e aos mineiros

para saírem do atoleiro dos idos tempos

não peçam

que o tirocínio dos hodiernos tempos

seria sacrificial

um punhal deixado a sangrar,

e sem limite de tempo, 

na sua memória sem tempo.

 

Não peçam aos eruditos

citações em latim

evocações dos gregos filósofos

não peçam

para glosarem as costuras 

de um mundo a desmodo

antes que apanhados sejam

a delinquir numa revista mundana

ou nos carnais meandros do hedonismo.

 

Não peçam aos estroinas

pacientes leituras em letra miudinha

retiro ao invés de boémia

palavras com o aval de poemas

o medo da morte

a devolução da História

para fora das páginas dos calhamaços

um boicote à frivolidade perene\

não peçam

o oblíquo pesar

que os extrai ao mundano adejar.

 

Não peçam

se não o que pedido puder ser

ou acabamos todos,

em contramão

e à espera do frontal choque,

até sermos despedaçados

pela boca iracunda

de uma tempestade castrada.

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