24.7.20

Anjos disfarçados

Dizem-me

não é por mal,

que ao lençol da inocência

faltam as orelhas puxadas

e uma fina camada de poeira

se sobrepõe

ao olhar dos imprudentes

coalescendo no perdão.

 

Estou por saber

como tirar a prova dos nove

antes que venha 

uma prova de vida

estragar a matemática delicodoce.

 

Estou para saber

como são adivinhadas

as petições de indulgência

como se enformam os compassivos

num véu de piedade

que se esportula

no púlpito da ingenuidade.

 

Às vezes

(são tantas, as vezes!)

só apetece dessaber

para do ultraje do conhecimento

não açambarcar

a boca amarga da angústia.

Outras vezes

quando 

desaparafuso os ossos dos outros

e sou ilha por dentro de um ilhéu

prossigo indiferente

imune ao raer dos fornos crematórios

onde frui 

o despautério

disfarçado de asas de anjo.

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