14.1.16

Limites

O topete dos que julgavam
maiores serem do que a sua estatura
sempre me causou espécie.
O poço sem fundo do narcisismo
parecia-me doença pueril
distúrbio volitivo
perturbação dos sentidos
(podia ainda dar-se o caso
de ser apenas um espelho retorcido).
Como não há nada que a filosofia não cure
percebi,
leituras depois
e pensamentos depois,
que somos uma ilha
por mais que as formatações ensinem
a social convivência.
Em havendo uma ilha em cada indivíduo
faz
(filosoficamente falando)
sentido
que a cada um venha a noção
de matéria centrípeta ser.
Mesmo quando os terramotos
desarranjam o chão que pisamos
mesmo quando o rio
transborda e somos seu leito
mesmo quando o cais que somos
tergiversa e a âncora não fundeia.
Na nossa imensa pequenez
átomos irrelevantes para o devir do universo
há em cada um a grandeza singular
ímpar
de não haver outro igual.
Fica confirmado
que podemos ter o topete
de maiores nos acharmos.
Não que isso adiante grande coisa
a não ser para as dores de alma
que incendeiam os dias sem solstício.

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