26.1.16

Medos sem medo

Seriam
vultos efémeros
palavras furtivas e negras
fantasmas
uma serpente colérica.
Seriam
medos a embaciar o sono
semeando sonhos plúmbeos
o corpo atamancado num túnel
ou nu no meio de nada
com vergonha de tudo.
Medos.
Das coisas difíceis
que por difíceis são tomadas.
Guarda-chuvas lilases e rotos
uma rosácea apodrecida
sem serventia.
O mar parado
com as ondas em greve
árvores estéreis
o arco-íris despojado de cores
e a madrugada
numa litania que coalesce.
Os números em desordem
desarrumando o pensamento.
Gatos ciciando o medo da água
e a água ausente em estio fora de época
tendo por baças as lentes do tempo.

Mas dos medos soergueu-se
o medo deles.
O que faria mais sentido:
a consumição dos medos
ou meter um medo de morte
aos medos todos?

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