Descemos ao chão
juntamos as mãos ao ouro esparso
não queremos adivinhar a colheita à espera
somos,
antes,
coreografia avulsa
ordem sublime
retirada ao penhor do dia.
Dizes:
beija o céu
traz o céu
para a embocadura da tua boca
deixa o céu sentir a cartografia da tua boca
a geografia do desejo
singular.
Amanhece no meu oráculo
e diz-me
de preferência em palavras suadas
que quimeras me reservas
no mais impuro santuário
que cingimos
com os corpos trémulos.
Digo:
que dizemos as palavras proféticas
os vasos esbanjando fertilidade
e sabemos ser tão fina
a fronteira entre o chão e o céu
e por isso
não capitulamos
não transigimos
na levitação das árvores frondosas
o traço grosso
com que desenhas no meu corpo
o teu nome próprio
e o que de minha safra
deixo
em moldura perene
o veio forte onde nos agarramos
como corrimão de platina
ou do material mais pétreo que houver
em nossos limítrofes ligares.
Concebemos um palco ímpar
as tábuas arrancadas às cicatrizes dos lugares
com um lampejo do sol tardio
e agarramos a luz porém modesta,
chega-nos esse módico,
que do demais somos lídimos fautores
a imperturbável ciência da cumplicidade
os corpos necessariamente chegados
o deslocamento do resto
até que sejamos nós
a dobrar de tudo o resto.
E dizemos:
damos os rostos à chuva copiosa
sentimo-la entranhar-se nos poros abertos
cuidamos
de alisar os lugares da nossa gramática
cuidamos
de aplacar a ira do mar
com os versos retumbantes que falamos.
Desaprendemos
o que for de desaprender
só com a ânsia de aprender
como se um zero fosse o reinício.
Na discreta comunhão do tempo
em páginas e páginas esgrimidas a quatro mãos
o lisérgico saber que nos acomoda
em montanhas e montanhas que desfilam
desafiantes
no cais de onde retiramos
o olhar insondável.
A vida não vai depressa
ela é que tem de esperar por nós
soberanos dela,
artesãos desenfreados das suas fronteiras
cada vez mais lassas,
cada vez mais incindíveis
no mapa desamparado sob nossos corpos
e nós
imperturbáveis
imaginamos o tudo que quisermos por imaginado
autores da nossa autoria
desenhando
o desenho que encerra a rosa-dos-ventos
e no silêncio da noite
sussurramos os nossos nomes
como se fosse necessário
eles serem
a jura recíproca.