Não tem horas
o relógio que me deste.
Entoa os verbos por saber
hinos em nossas bocas
e os ponteiros descem
na moldura
de um rosto que trago no peito.
O relógio que me deste
desenha todos os minutos,
não importa se são parcelares,
sem os deixar para memória futura
no absoluto penhor das chaves
sem esquecimento
dos parágrafos alinhados
sem esquecimento
de como teus olhos foram meus tutores.
E se tivesse horas
o relógio que me deste
seriam as horas de ouro
as horas arqueadas
pelas flores onde nidifica o perfume
as horas alinhavadas
pelos nossos dedos com sede de archotes
pelo vinho ímpar que nos incendeia
pela chama acesa no pálido entardecer
pelo verso escolhido a dedo.
O relógio que me deste
não precisa de dar as horas
porque o tempo todo
foi o que me trouxeste
no teu remanso.
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