3.11.19

Oslo

Sobre o crepúsculo a destempo
tinge-se uma luz baça
sobre a baía. 
O casario moderno,
com linhas de arrojo,
recebe os esparsos feixes de luz
subtraídos ao espelho das nuvens dominantes,
filtrando-os através das vidraças 
espalhadas entre paredes e tetos. 
Uma claridade timorata
desfaz-se em generosa luminosidade
que se deita sobre a cidade,
amaciando o frio pré-invernal. 
E até a miríade de estátuas
(na coleção de estatuária
que parece ser mais numerosa
do que ia habitantes da cidade)
parece ganhar vida 
o bronze refulgindo 
com o módico dispensar da luz rara.

Só os turistas têm frio. 

Os habitantes
desfilam menos indumentária
sem esgares de desconforto 
com o frio pré-invernal. 
As folhas das árvores
caducas, 
enrugadas,
acobreadas,
denotam o outono 
que estende a mão ao inverno:
o chão é o seu leito;
dir-se-ia:
o chão é o caudal
onde se despojam as folhas 
destronadas pelo outono. 
Fica à mostra
o pressentimento do inverno
e as pessoas protegem-se com bebidas quentes
indiferença pelo frio pré-invernal
e resignação pelos dias imperativamente magros. 

E aprende-se:
o inverno não é uma fatalidade
nem o nó górdio que investe contra as pessoas
e subtrai um sorriso confortável. 
Até as estátuas
o sabem:
um dia destes
a neve vai caiar a paisagem,
deitando-se sobre os corpos inanimados
das estátuas,
que, estoicas,
ensinam o deslumbramento do inverno. 

Os braços do mar,
aplacados pela sumptuosidade dia fiordes,
abraçam a cidade
(a menos que um olhar do avesso
pressinta que a cidade é que congraça
os braços do mar).

O mar ficará 
imorredoiro
para se enamorar com a cidade das estátuas
caiada pela neve sem freio. 

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