29.11.21

Cheque em branco

Era sem saber da lareira

que o Inverno se acomodava

entre os poros cansados 

e as preces não atendidas 

dos seus inimigos. 

Se ao exílio comparecessem

os arrojados embaixadores da fecundidade

prover-se-iam de toda a carne a jeito,

a vantagem não artificial na boca do desmedo

rindo, gulosamente, 

contra os padrões. 

Não sabendo do exílio

não se sabia do seu paradeiro

a loucura espalhada pelos átomos de todo o chão

chamando pelos fugitivos desamparados

seduzindo-os com a armadilha do fingimento. 

E eles

já não sabiam

se era de exílio que cuidavam apascentar

ou se era apenas o idioma estilhaçado. 

A fábrica ao longe,

marcando 

o horizonte que separa do desconhecido,

moderava as sílabas 

que medravam das bocas famintas. 

Não era o túmulo onde, 

serenos,

druidas esquecidos 

povoavam a errática condição. 

Os vultos não consentiam a identificação. 

Ninguém anda pela rua

a perguntar os nomes.

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