21.11.21

Uma conspiração das boas

O jornal começava na página quatro.

A tarde esperou que a andorinha se deitasse.

O polícia abusou da bolacha americana.

A tia vetusta subiu a saia um dedo acima do joelho.

O artista internacional sorriu ao porteiro do hotel.

No cemitério não havia portas abertas à noite.

O estroina fazia-se à vida à boleia do elétrico.

Os versos arrumados combinavam uma conspiração.

O rio não adormeceu a convite do luar.

A mulher sozinha perdeu-se no jardim central.

As velas nas casas não eram um idioma.

O rústico habitar remoto dispensava companhia.

O medo de ter medo rimava com a loucura.

Os dados percorriam o suor dos dedos.

Os amantes desamparados fugiam das lágrimas.

O vinho colhido aprendia a saber os dias.

Os candeeiros apagados amaldiçoavam a noite.

Os socalcos dispunham-se na vertigem do entardecer.

A tiara açaimada escondia-se dos aspirantes.

O grande palco indiferente não dispensava as almas.

Em vez de um sensato abocanhar do dia

a demencial escapada nos interstícios da boémia.

A véspera colonizava a emergência do futuro.

As pessoas avisadas não sabiam do futuro.

Colmeias inteiras ensinavam os misteres.

À mesa dos reis sabiam-se pútridos comensais.

Na voragem dos pressentimentos achava-se um escudo.

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