Batem por dentro
no avesso das pálpebras
as palavras atónitas
o sal hirsuto do mar
o vento em protesto
os corpos desassisados
fulgurantes centelhas em meneios
nos antípodas da carne apaziguada.
Se fossem exílio
as asas apressadas seriam maneirismo
um fingimento a calhar em estrofes
ornato precioso na bolsa sem fundo.
Mas não são.
Suplicam as bocas foragidas
em idiomas por inventariar
os modos sem instruções
uma gramática por cada pessoa
um tribunal inferior que seja bastante
no imprevidente salvo-conduto
à fortificação apresentado.
A roupa torcida
não se amarrota na descompostura:
dela é a marca registada dos habilitados
o corpo em preparos inverosímeis
como se acabasse de escolher um púlpito
e não deixasse em memória futura
herança a caber.
Os dias são iguais.
Arrumo os escombros na fileira do esquecimento
e dou o inteiro de mim à acintosa manhã
eu que sou meão
e não aspiro a que do meu nome saibam
paradeiro.
Não seja em mim encontrada
a peugada da heráldica
que da orfandade
tenho uma impressão da espécie.
Em todas as marés
desapareço
fundindo o vulto em que me tornei
na espuma levantada pelos mares desarrumados.
Sou como um navio
a água do mar como morada
e o rosto como a lombada de livros em barda,
o demais escondido do voyeurístico espiolhar.
Sou
exílio por dentro
os pulmões cheios de versos por saber
e uma manhã que se confunde
com os acordes em espera.
Sou
a provável fragilidade
que se não esconde
o lema tirado à sorte
(ou atirado à sorte)
na filigrana em que se habilitaram as mãos.
Espero por o que não posso esperar
e nisso faço-o não-espera
o vocábulo irredentista
a fação compulsiva que arremete contra o dia
em mil e duzentos archotes que dividem a avenida
enquanto se espera
aquilo por que não se pode esperar.
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