Extingue-se a penumbra.
Os gatos dissolvem-se das ruas
agora colonizadas por pessoas.
O céu tingido de tons alaranjados
rima com a preguiça que acompanha
o dia inaugurado.
O sangue das pessoas ainda é letargia.
As palavras saem a custo
muitas preferiam habitar
se pudessem
o exílio de uma cama.
As ruas ainda não crepitam;
prometem fazê-lo
pela experiência que trazem ao dorso.
Notam-se uns despojos da noite destreinada:
um punhado de boémios a desoras
perdidos na iconoclasta ebriedade
alguns operários do turno da noite
em contramaré
apressados para o sono
os estilhaços de garrafas averbadas na boémia
o lixo negligente de quem habitava
sentidos embaciados.
O dia que se inaugura
com o primeiro sopro da aurora:
que mentira tão bem montada
se o dia
este dia para efeitos de contabilidade do tempo
já leva no inventário
meia dúzia de horas.
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