13.2.23

A alvorada procura um lugar

Extingue-se a penumbra. 

Os gatos dissolvem-se das ruas

agora colonizadas por pessoas. 

O céu tingido de tons alaranjados

rima com a preguiça que acompanha

o dia inaugurado. 

O sangue das pessoas ainda é letargia. 

As palavras saem a custo

muitas preferiam habitar

se pudessem

o exílio de uma cama. 

As ruas ainda não crepitam;

prometem fazê-lo

pela experiência que trazem ao dorso. 

Notam-se uns despojos da noite destreinada:

um punhado de boémios a desoras

perdidos na iconoclasta ebriedade

alguns operários do turno da noite

em contramaré 

apressados para o sono

os estilhaços de garrafas averbadas na boémia

o lixo negligente de quem habitava

sentidos embaciados. 

O dia que se inaugura

com o primeiro sopro da aurora:

que mentira tão bem montada

se o dia

este dia para efeitos de contabilidade do tempo

já leva no inventário 

meia dúzia de horas.

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