12.2.23

A cidade que fala nos braços do silêncio

Arrancado à dureza dos maxilares

um silêncio povoado de noite

esgrime contra a pálida expressão do medo. 

A fala, submersa,

amotina-se. 

Arruma a rigidez dos tendões

e a teimosia dos músculos,

contrária a mudez estrutural

vendo como os copos 

entretanto vazios

dançam com as palavras dantes reprimidas

as palavras agora espalhadas pelas paredes. 

Um rosto ensonado adia a manhã,

acredita na ilusão. 

A luz inaugural fere o olhar

a mesma agressão da fala emudecida

enquanto a noite onde se sentam as solidões

vocifera um bolçar que não se ouve. 

O silêncio não passa de um disfarce. 

Todo o peso das pessoas

arqueia as ruas

que cedem à profusão de páginas faladas

pelo somatório de todos os que souberam 

das ruas. 

Essa amálgama é a indelicadeza da cidade

uma teia de haveres que se entretece

com os segredos habilitados 

em testamentos guardados no silêncio fundo,

a estola que cai sobre o seu dorso. 

A nudez da cidade

enfim

disfarçada por este coro claro.

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