18.4.23

Aqui não há rede de segurança

O céu temperamentalmente outonal

cospe sombras sobre o avesso da noite. 

Vozes efémeras casam-se com a distância

esmaecendo a caminho do silêncio. 

A cada minuto

há não-sei-quantos praticantes da mentira

não-sei-quantos mentores do passado

não convencidos que o tempo segue para o futuro

não-sei-quantos mortos nas estradas

não-sei-quantos embriões logrados 

no sexo interrompido. 

As páginas dos livros incendeiam o vento

enquanto esperam

que a noite recupere o seu lugar. 

Alguém diz

tenho medo dos sonhos

tenho medo

que pressintam o pesadelo 

em que se torna

a vida. 

As pessoas querem o seu exílio

por fora do perímetro puído que as expropria. 

Querem

um futuro de poesia

em vez do pesadelo contínuo

através das assinaturas de jornais

e noticiários televisivos e seus ademanes 

– profetas da malquerença

e oráculos de utopia. 

Sem comentários: