13.4.23

Jogo quase olímpico

Epicentro;

as furnas levitam o magma 

das almas sem paradeiro.

 

As folhas das árvores

derruídas pelo Outono

apreciam o ocaso

o fusível para as cores adulteradas

em movimentos desorganizados

de sindicatos sem certidão.

 

Diz-se

outra vez

sem saber se é por recusa

ou como hospedeiro da rotina

sem sequer intimidar 

os diseurs.

Abandona-se o lugar

deixado vago aos bancos ausentes

os bancos que podiam ser de bancos

se ainda houvesse jardins.

 

A matéria viva

toma conta do sol

fermenta a carne incindível

demorada no crepúsculo efémero.

Os cardumes pressentem-se

o mar é a sua morada

e não há pesqueiros no perímetro

nem um matança no fio do horizonte.

O ultraje

é afim do arrependimento

não se pode cativar a hipocrisia nos outros

sem cair na indigência

de não se reconhecer hipócrita.

 

O sal tempera as cicatrizes

põe as feridas à prova.

Não é provação à medida

ou à desmedida encomendada:

o sal

é a alma mater das cicatrizes

o incentivo

para tantos serem mineiros.

De todas

a pele de pêssego

cobra os impostos diferidos

e sabe-se

é a exemplar seda que cobre os corpos.

 

Na véspera

o medo era apenas

uma intendência.

Fingia-se não saber 

a linguagem do medo

fingiam-se

exílios em grutas sem mapa

em vez de almocreves desossados

irrompendo contra as palavras párias.

 

Era assíduo ouvir

por vezes

como se dizer 

por vezes

fosse a promessa que faltava

para colorir os dias vindouros.

Se houvesse

um matadouro dos lugares-comuns

não seriam de sangue

os seus vestígios.

Mas não haveria operários,

ou uma autofagia dilacerante 

cortaria tudo a eito

em pequenos estilhaços

de nós sobrando um ermo infecundo;

o precipício habilitado

para as vias de extinção.

 

Formulário coloquial:

aceitam-se a concurso

todas as fragilidades

as inventariadas 

e as que esperam 

em reserva;

num concurso de males

vence o que for de menor

estatura.

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