26.4.23

Sem filtros

Não sei se ouvem

as vozes que se convocam

para o que houve no futuro. 

Por dentro dos bolsos

um terrível nada

feito de um amontoado de pessoas

a mais improvável véspera que se encena

no fingimento dos paradoxos. 

Não sei

se de mim houve

bondade;

participo as fragilidades 

que de mim deixam um retrato nu:

dessa nudez que é embaraço

procuro cortinas baças,

que não se veja para dentro. 

Arranco às notícias

sob tortura (se preciso for)

as mentiras que contam. 

Não preciso dessas mentiras 

– ainda por cima 

não são piedosas. 

Não preciso 

de um disfarce a cobrir o mundo. 

E talvez também seja dispensável

a cortina baça 

que esconde a minha nudez. 

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