Não sei se ouvem
as vozes que se convocam
para o que houve no futuro.
Por dentro dos bolsos
um terrível nada
feito de um amontoado de pessoas
a mais improvável véspera que se encena
no fingimento dos paradoxos.
Não sei
se de mim houve
bondade;
participo as fragilidades
que de mim deixam um retrato nu:
dessa nudez que é embaraço
procuro cortinas baças,
que não se veja para dentro.
Arranco às notícias
sob tortura (se preciso for)
as mentiras que contam.
Não preciso dessas mentiras
– ainda por cima
não são piedosas.
Não preciso
de um disfarce a cobrir o mundo.
E talvez também seja dispensável
a cortina baça
que esconde a minha nudez.
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