O peixe nómada
conheceu o sal de todos os mares.
Sulcou águas quentes
água frias
águas nem quentes nem frias
mais salgadas ou temperadas
fundas e de coral
lânguidas e tempestuosas.
O peixe nómada
não apreciava a quietude de um lugar.
Demandava mares outros
às vezes sempre sozinho
outras intruso de cardumes outros.
Conheceu peixes diversos
de feitios diversos
de confiança diversa
e olhares diferentes.
Falou as línguas dos peixes de lugares
diferentes.
Tantas milhas náuticas nadadas
mas de cansaço não havia vestígio.
Fugiu às artes de pesca
fugiu de tubarões predadores
escapou à fúria de tufões
e aos hélices trovadores de navios
mercantes.
Enredou-se em algas em refrigério das
escamas
adoentou-se em mares fétidos
intoxicou-se com detritos de petróleo
vertidos por petroleiros insanos
extasiou-se nos mares de coral.
Mudou de escamas e de cor
aprendeu a olhar pelo estalão de
diferentes mares
foi e veio com a vontade das marés.
Dizia uma lenda
que o peixe nómada era eterno.
E que a eternidade
vinha dos diferentes mares mostrados.
Peixes houve
que sabendo da fama do peixe nómada
queriam confirmação do atributo.
O peixe nómada desconversava
enquanto demandava a um mar diferente.
Havia sempre mares novos.