Dizia a formiga
sobre a sua amiga:
ai de quem a castiga
sem que a ela persiga.
A formiga pedia
que o respeito que sentia
e as palavras que dizia
não fossem lugar que partia.
Nesta fábula encantada
se deve rever a criançada
não vão apanhar uma bofetada
de uma lente desvairada.
Que na lição os petizes não demorem
pois quando grandes forem
tempo haverá para dissidirem
sem temor se nada ganharem.
Fábulas deste jaez
mesmo com esta intrepidez
serventia têm nenhuma vez
num tempo que destes heróis não fez.
Crianças: olhos abertos
fujam das prédicas de espertos
ladainhas assim pedem consertos
e vocês têm os sentidos cobertos.
Em modo de corolário
boicotem este bestiário
de falsos anjos de armário
não sejam deles dócil serventuário.
Não capitulem do vosso arrematar
das coisas que vierem a ditar
sem medo dos que estão a empatar
pois a vós cabe nobre função de contrastar.
Era isto poema sobre formiga
para as crianças uma ajuda cantiga
mas decaiu na dobra da barriga
e nem para os saldos respiga.
Esqueçam, pois, o poema
que do poeta não há quem trema
a não ser da sua toleima
e das mãos de quem se queima.
Petizes de agora e vindouros
apostai nos vossos próprios couros
e recolhei vossos ouros
até nos mais remotos ancoradouros.
Não deixem o orgulho do que são
mesmo no bosque malsão
que adultera a combinação
que vos ensinam como perfeição.