“De que valem todos os atos e pensamentos dos homens no
decurso dos séculos face a um único instante de amor?” Friederich Hölderlin
Dizem oráculos
escondidos
na sombra da dúvida
que um amor é singular
quando
limpa as lágrimas
vertidas
ampara as mãos trémulas
desarvora as
bandeiras párias
aquece o sangue
deixado em frias águas
e quando
os olhos são o
penhor
dos olhos que são
seu penhor também
e tudo se transluz
nas ameias da
cumplicidade.
E se o singular
amor
transfigura a
paisagem
derrete a lava
dos vulcões
participa nos
palcos medonhos
(amaciando os
medos, ociosos)
afere as medidas
estouvadas
encorpa a
loucura benigna,
é por ser
singular
e amor
num mesmo tempo
num só tempo
irrepetível, mas
perpétuo.
Embebidos os
corpos
no sal vistoso
apanhado das flores
as montanhas em
pano de fundo,
nem as pedras
enrugadas do caminho
atemorizam os pés
e os corpos
atiram-se num voo fecundo
e fazem seus os
domínios avistados
no testamento do
amor sem quesitos.
Até que o tempo
seja a medida inteira
abraçada pelas mãos
juntas
fotografada pelo
olhar uníssono
e do tempo sem
fim frua
o amor-essência
– com a jactância
que guardam os amantes
no mar indomável
reduzido
ao suor
derramado por seus corpos.
Pois a matemática
singular
a que não se
ensina nas escolas
e irrompe da
porosidade das almas amadas
resgata os
amantes
de um trespasse mendaz
das aciduladas páginas
a que põem freio.
Do tempo sem fim
na mediação dos
amantes
até que da
arquitetura dos deuses
sejam seus
tutores.