28.3.17

Sem vergonha

No vértice da tarde
onde o chão arruma a bruma
pelo módico esgar de um mendigo
deitam-se ao céu preces sem autor.
As ondas venais
sem areia para beijar
desfazem-se no cais antigo
à espera de um vento soberbo
que as faça aportar no lugar cobiçado.
Na embocadura do rio
As barcaças arremetem contra a corrente
engolindo a espuma das ondas
que vencem o braço de ferro com o vento.
E a noite tremenda
esbracejando o luar alvo
abre as cortinas
para a loucura sem quartel.
Os vendilhões afinal não o são.
Sobram as côdeas esfareladas
do baraço rutilante
que amordaça
todos os pesares sem estima.

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