27.3.17

Instituto de Meteorologia

(Em jeito das conversas à falta de assunto, tirando o assunto meteorológico do saco)

Desafio as portas da primavera.
Desafio-as
a serem tutoras da claridade reavivada
das flores gravitacionais
do mar que descansa do desassossego invernal
das pessoas sequiosas de leveza de indumentária
do entardecer que se estende pelo dia fora
das nuvens alisadas no céu aberto
das árvores que voltam às folhagens
dos aromas silenciados no inverno
dos mananciais que se escoam fartos,
fruto do degelo.

Desafio as portas da primavera
a não se esconderem
na carantonha do inverno a destempo.
A não sufragarem os frutos em viço
debaixo da geada mortífera.
A não importarem das lonjuras
ares não convidados,
ares estranhos,
que as gentes protestam
contra a primavera em contrafação,
definhada
adiada.

Talvez
os deuses pudessem encomendar
por sua interposta pessoa
aos caudilhos das anomalias dos elementos
uma trégua.
Só para não ter de ouvir
incessantemente
lamentos de um tempo fora do seu tempo.

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