16.3.17

Alter ego

Desembrulhei-me das costuras que tenho
(se é que consegui):
não tenho noção do que vejo
ao me parecer
que de fora de mim
não consigo ter noção do que sou.

E
dizem os costumes
sanciona-se a necessária transfiguração
quando os ossos batem nas gastas paredes
e as veias se incineram
num viés qualquer.

Se pudesse
não vivia armadilhado
em um eu e o seu diferente:
não tenho espaço suficiente
sequer
para albergar o que de mim se apoderou
essa cornucópia que faz as coisas complexas
o barro inerte, inamoldável.

Vistas as coisas desta feição
talvez me reste deitar no mar vago
e sem rezas que cheguem
povoar o resto com umas pinceladas ao acaso.
Já tenho tempo que chegue
para não acreditar em menos.
Um ego alter
na alteridade impossível
é um mais
que transborda do copo capaz.

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